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Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 6

6 | ÁGUAS-VIVAS E ORGULHO


Quando você era bem pequena, às vezes se referia a “certas pessoas” quando, na verdade, falava de si mesma. Certa noite, quando estávamos a bordo de um navio, você estava enfiada no beliche superior e tinha acabado de terminar suas orações noturnas. “Deus criou tudo que há no mundo”, disse a mim, “mas certas pessoas não sabem por que ele criou as águas-vivas e os tigres”. Certa vez, você fora queimada por uma água-viva; e “tigres” era a forma como você chamava as jaguatiricas e as onças-pintadas que habitavam a selva em que vivíamos. Os índios sentiam medo delas e, claro, você também. Mas você não estava perguntando especificamente por que Deus os havia criado. Você não entendia, mas não estava exatamente admitindo isso. Estava apenas observando, de uma forma filosófica, que havia quem não entendia e, diplomaticamente, não estava sugerindo que aquele fosse o caso de sua mãe. Sua mente de três anos dificilmente seria capaz de compreender as implicações do mistério no qual você havia tocado. Afinal de contas, a resposta teria de incluir, sob uma perspectiva humana, uma explicação para o sofrimento humano. No entanto, a água-viva e o tigre “sabem” para o que foram criados. Eles, com todos os monstros marinhos e todos os abismos, o fogo e o granizo, a neve e o vapor, os montes e os outeiros, as feras e todo o gado, louvam ao Senhor. A água-viva glorifica seu Criador por ser uma água-viva, pois, ao sê-lo, ela cumpre o comando de seu Criador. Todas as criaturas, com duas exceções que conhecemos, voluntariamente ocuparam os lugares que lhes foram designados. A Bíblia fala tanto de anjos que se rebelaram e, então, foram expulsos do céu como da queda do homem. Adão e Eva não se contentaram com o lugar que lhes fora designado. Eles rejeitaram a única limitação estabelecida para eles no jardim do Éden e, assim, trouxeram o pecado e a morte ao mundo inteiro. Na verdade, foi a mulher, Eva, quem viu a oportunidade de ser algo diferente do que fora criada para ser — a serpente a convenceu de que ela poderia facilmente ser “como Deus” — e tomou a iniciativa. Não há como saber se uma conversa prévia com seu marido poderia ter conduzido a um desfecho totalmente diferente. Talvez sim. Talvez, quando ela lhe apresentasse a questão e ele houvesse de refletir sobre o assunto, ele veria as implicações mortais e recusaria o fruto. Mas Eva já o havia provado e não fora fulminada. Ela, então, o ofereceu ao marido. Como ele poderia recusar? Sem dúvida, Eva era uma linda mulher. Era a mulher que Deus lhe dera. Ela estava apenas testando o que parecia ser uma restrição desnecessária e trivial, e sua ousadia fora recompensada. Ela havia escapado impune; então, por que Adão não deveria fazer o mesmo? Como seria o mundo se Eva houvesse recusado a oferta da serpente e lhe tivesse dito: “Que eu não seja como Deus! Deixe-me ser o que fui criada para ser — deixe-me ser mulher”? Porém, o pecado foi muito mais fatal do que seus piores pensamentos. Foi húbris, um erguer-se da alma em provocação a Deus, aquele orgulho que usurpa o lugar de outrem. É um tipo condenável de orgulho

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