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Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 48

48 | AMOR É AÇÃO


O solstício de verão acabou de passar e os dias são longos, ensolarados e claros. É chegada a noite, e quase não se vê uma onda movendo-se no porto. O profundo azul do céu escurecendo se reflete no profundo azul da água. Os barcos ancorados ficam totalmente dourados com o sol poente, e a Ilha Morris, do outro lado do porto, exibe um aveludado verde-ouro na luz tardia, destacando-se contra o crepúsculo. Uma gaivota branca flutua calmamente na superfície da água escura, perto da costa. A madressilva torna o ar doce com a dádiva de seu perfume. Um pequeno barco vem do mar, “cortando a água como um par de tesouras”. Tenho apenas mais alguns dias neste lugar adorável. Você está em Oxford agora, a bela e velha Oxford, com suas ruas estreitas, seus sinos, suas fachadas verdes e floridas, suas bibliotecas, capelas e salões. Mas eu a imagino aqui comigo, nós duas sentadas no chalé, perto da lareira, conversando. Sobre a cornija, há um chamariz de madeira preta, um vaso de cerâmica marrom com plantas de inverno, um prato de cobre e uma fileira de livros que são minha grande tentação enquanto estou tentando escrever. MacDuff está deitado do lado de fora da porta dos fundos, nas lajotas frias do pátio, suas patas traseiras esticadas para trás, o rabo empinado como pequenas flores de borracha, o nariz de um preto brilhante descansando entre as duas patas dianteiras, orelhas em alerta. Devemos conversar sobre a quarta coisa — o amor. Não é a quarta em prioridade. Não as coloquei em ordem de importância porque, simplesmente, não saberia como fazê-lo. Penso que o casamento ideal não pode passar sem nenhuma delas. Deve haver aceitação da ordem hierárquica; deve haver sexo; deve haver lealdade e orgulho; e deve haver, em tudo e por meio de tudo, amor. Você se apaixonou. Teve a experiência com que quase todos sonham; sobre a qual os poetas escrevem; que, com alguns, se dá “à primeira vista” e, com outros, vem lentamente; e, com você, acho, depois de um contato muito breve. Lembro-me da primeira vez que aconteceu comigo. Percebi que tinha acontecido quando me olhei no espelho, pois vi uma pessoa diferente ali. “Você o ama”, disse eu ao reflexo, e o reflexo respondeu que sim. Você olha para o rosto dele e tudo em você diz “sim”. Você sabe, sem sombra de dúvida, que aquele é o homem a quem você poderia entregar-se com prazer. Seu coração canta, o mundo inteiro canta, a aparência das coisas se transforma. Mas não é desse amor que quero falar agora. O tipo de amor que faz um casamento dar certo é muito mais que sentimentos. Os sentimentos são as coisas menos confiáveis do mundo. Construir um casamento tendo-os por fundamento seria como construir uma casa na areia. Quando, na cerimônia de casamento, você promete amar, não está falando de como espera sentir-se. Você está prometendo um plano de ação que começa no dia de seu casamento e continua enquanto vocês dois viverem. Seus sentimentos não podem deixar de ser afetados pela riqueza e pela pobreza, pela saúde e pela doença, ou por todas as outras circunstâncias que constituem a vida como um todo. Seus sentimentos vêm e vão, sobem e descem, mas você não faz votos a respeito deles. Quando você se encontra, como a personagem instável na Epístola de Tiago, “impelida e agitada pelo vento”, é maravilhoso saber que você tem uma âncora. Você fez diante de Deus uma promessa de amar. Você promete amar, confortar, honrar e guardar esse homem. Você jura tomá-lo como seu esposo, a fim de tê-lo e mantê-lo desse dia em diante, para o bem ou para o mal, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para amá-lo e estimá-lo “conforme a santa ordenança divina”, até que a morte os separe. Nenhum de nós pode antecipar plenamente todos os possíveis detalhes quando fazemos essas promessas impressionantes. Nós as fazemos pela fé. Cremos que esse Deus, o qual ordenou que um homem e uma mulher se apegassem um ao outro por toda a vida, é o único Deus que pode tornar possível esse apego fiel. Não recebemos graça para nossas imaginações. Recebemos a graça necessária quando ela se faz necessária — “o pão nosso de cada dia [...] hoje”. E, por ter dado a sua palavra, você se comprometeu de uma vez por todas. “Sim, assim farei com a ajuda de Deus.” Nada que valha a pena ser feito jamais foi realizado apenas por meio dos sentimentos. É preciso haver ação. É preciso colocar um pé na frente do outro, percorrendo o caminho que vocês, juntos, concordaram em percorrer. O princípio básico do amor é a entrega. Parece-me que isso é inevitável a qualquer mulher que ame de verdade. Você já sabe quão profunda e urgentemente anseia por se entregar ao seu marido. A essência da feminilidade é o ato de se entregar. Talvez seja mais difícil para o homem se entregar, mas tanto o marido como a esposa devem aprender a fazê-lo. Na esposa, a entrega vem em forma de submissão. Paulo nunca precisou ordenar que as esposas amassem. Aparentemente, ele pensou que elas fariam isso sem sua admoestação. Mas ele as lembrou de que o amor delas deveria vir em forma de submissão. Quando, no curso da vida diária, o amor que elas tão naturalmente sentem por seus maridos não é suficiente para lidar com o atrito e o desgaste, a ação ali necessária é a submissão. Mas Paulo sabia que o amor de um homem era de um tipo diferente. Seu impulso viril de dominação, dado por Deus e necessário ao cumprimento de sua específica responsabilidade masculina de governar, torna, para ele, mais difícil entregar a própria vida. Assim, Paulo impôs ao homem o fardo mais pesado, ao ordená-lo a amar sua esposa como Cristo amou a igreja. As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido. Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. [...] Não obstante, vós, cada um de per si também ame a própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao marido (Ef 5.22-28, 33).

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