Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 49
- Emperolar

- 28 de set. de 2022
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49 | AMOR SIGNIFICA UMA CRUZ
Quando ainda não se é casada, ou quando seu casamento acabou e você olha para aqueles anos com saudade, certamente é bem possível idealizá-lo. Mas existe algo que permeia toda a vida, algo que nos impedirá de idealizar as coisas boas da vida, mas também nos fará suportar o que nela há de pior: a cruz. A cruz deve permear o casamento. “Quem ama também sofre”. A cruz se faz presente no exato momento em que você reconhece um relacionamento como uma dádiva. O mesmo que dá também pode tomar a qualquer momento e, sabendo disso, você dá graças ao receber. Desejando, acima de tudo, fazer a vontade de Deus, você lhe oferece de volta como oblação até mesmo a maior de todas as dádivas terrenas, elevando-a em adoração e louvor, crendo que, ao oferecê-la, ela será transformada para o bem de outras pessoas. Isso é o que significa sacrifício. É por isso que a cruz de Cristo “eleva-se sobre os destroços do tempo”. O amor é sacrificial. O sacrifício é uma entrega, uma oferta, e o significado do sacrifício na Bíblia é dar vida a outra pessoa. Acredito que vocês podem oferecer juntos, como casal, o amor que têm a Deus em prol de sua obra transformadora. Vocês podem ler com especial significância as palavras de Paulo na Epístola aos Romanos: Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1-12). A maturidade começa com a disposição de se entregar. A infantilidade caracteriza-se pelo egocentrismo. Somente os que são emocional e espiritualmente maduros são capazes de dar a própria vida pelos outros, só aqueles que são “mestres de si mesmos, para que sejam servos dos demais”. A maneira específica como o grande princípio da cruz funciona na vida diária está expressa, mais perfeitamente, em 1 Coríntios 13, o Capítulo do Amor na Bíblia. Ali, encontramos a prova do caráter austero e sacrificial, e não emocional, do amor. O amor cristão é ação. Tal é a trama e a urdidura do casamento que, uma vez que o é em si a obra de toda uma vida, esse amor é trabalhado ao longo de todos os dias e anos de casamento, crescendo à medida que é praticado, aprofundando-se à medida que os cuidados e as responsabilidades vão-se aprofundando e, ao mesmo tempo, transformando esses cuidados e responsabilidades (e até mesmo o trabalho mais penoso) em uma alegria mais profunda. Paulo disse que não é a eloquência, não é o dom da profecia ou do conhecimento, nem o conhecimento dos próprios mistérios de Deus — em última instância, não é a fé absoluta que importa. É o amor. Se conheço minimamente seu coração, sei que você não se sente tentada a pensar que tem qualquer um desses dons elevados e invejáveis. Mas você de fato ama. Disso, você está perfeitamente certa. Isso vai durar? Sim, se for o tipo de amor sobre o qual Paulo escreve. Este amor de que falo demora a perder a paciência — ele procura uma forma de ser construtivo. No ano passado, uma garota me escreveu pedindo conselhos sobre seu comportamento em relação ao noivo. Ela já estava pensando em como repreendê-lo. Eu lhe respondi com esse versículo. Obviamente, não se pode ser construtivo sem se perceber a fraqueza. Mas, quando você reconhece uma área que necessita de um pouco de construção ou reforço, pode começar a construir, a encorajar, a fortalecer. Não perca a paciência. Construções demoram muito, e você tem de aguentar vários atrasos e inconvenientes, além de muitos escombros, no decorrer do processo. O amor não é possessivo. Se Deus os deu um ao outro “para ter e manter”, como pode não ser possessivo? O caminho é lembrar-se, em primeiro lugar, de que ele é uma dádiva e, segundo, das limitações dessa dádiva. Deus os deu um ao outro de maneira específica, por um tempo específico. Ele ainda é o mestre de cada um de vocês e é a ele, antes de tudo, que você responde. Há uma espécie de possessividade que é avareza, uma luxúria apegada e grudenta que oprime e domina. Nesse tipo de posse, não há fé, nenhuma ação de graças, nenhuma reverência pelo indivíduo criado à imagem de Deus. Ele é tratado como um objeto possuído para ser usado ao bel-prazer do proprietário. Há o medo da perda — ele pode ir embora ou ser levado embora. Confie no Deus que o deu a você, creia que ele guardará vocês dois. O amor não anseia impressionar nem acalenta ideias exageradas de sua própria importância. Ele também não precisa fazer isso. Você já o impressionou. Você é extremamente importante para ele. Não há dúvida a esse respeito. Aceite o fato e descanse ao lado dele. Seja mansa, reconhecendo que existem áreas da vida dele nas quais ele não precisa de você. O amor tem boas maneiras e não busca vantagens egoístas. Já se definiu a cortesia como “um monte de sacrifícios triviais”. Ao se levantar rapidamente de sua confortável cadeira quando sua esposa entra na sala; ao saltar do carro debaixo de chuva para lhe abrir a porta; ao puxar a cadeira da mesa para ela se sentar; por meio de todos esses gestos (que lhe custam pouco), o marido demonstra não que ela seja indefesa e necessitada de ajuda física, mas que ele se preocupa com ela. Ela se agrada ao ser reconhecida dessas maneiras especiais — e ele se agrada porque ela se agrada. É um pequeno preço a pagar por uma sensação calorosa. É mais um pequeno aperto nos laços que os unem. O amor não é emotivo. O amor se emociona — ou seja, é profundamente sensível aos sentimentos do outro; fica triste quando ele está triste; ferido, quando ele está ferido; feliz, quando ele está feliz. Mas o amor não é emotivo. A emotividade se refere à reação ao tratamento de outra pessoa. Quando duas pessoas vivem em amor, partem do pressuposto de que o amor está na base de qualquer tratamento que recebam. Isso elimina muitas feridas em potencial. É verdade que sempre é mais fácil ferir alguém que você ama, pois tudo que você faz e diz é muito importante para essa pessoa. Mas reagir de forma magoada é emotividade. O amor não é emotivo. O amor dá o benefício da dúvida. E, mesmo que a dúvida persista, reaja com amor. Não retribua mal com mal. O amor não leva em conta o mal nem se vangloria na maldade de outras pessoas. Pelo contrário, ele se alegra com todos os homens de bem quando a verdade prevalece. Recuse-se, expressamente, a compilar uma lista de infrações para algum dia despejar sobre seu marido, quando ele reclamar de algo que você fez. O amor mantém uma ficha em branco. Isso não significa, claro, que seja possível esquecer todas as ofensas. “Perdoar é humano, esquecer é divino”. Você pode ter de perdoá-lo quando ele a machucar e, depois, perdoá-lo mais uma vez e sempre que se lembrar da ofensa, mesmo que ela lhe venha à mente quatrocentas e noventa vezes. Você descobrirá que o perdão consome menos tempo do que o ressentimento. A perseverança do amor é ilimitada, sua confiança é infinita e sua esperança, inesgotável; o amor pode sobreviver a qualquer coisa. Ele é, na verdade, a única coisa que permanecerá de pé quando tudo o mais houver ruído. Essas são as regras básicas. É assim que realmente funciona essa coisa chamada amor — num casamento e no mundo. Na intimidade do casamento, você se oferta contínua e alegremente. Quando você se entrega ao seu marido, está, na verdade, dando-lhe vida. Você está dando à vida dele um sentido que antes não estava presente e, queira ou não (entre os fatos inescapáveis, esse é um dos mais surpreendentes e belos), de repente você encontra sentido em sua própria vida por causa desse sacrifício. Seu marido, ao amá-la como Cristo amou a igreja — ou seja, ao entregar a vida por você —, enche-a de vida e dá sentido à própria vida dele. Um princípio espiritual inexorável se põe em movimento. O que ocupa sua mente não é a entrega, mas a alegria. Cristo, ao suportar a cruz, conheceu a alegria que lhe estava proposta. Não se pode falar sobre a ideia de igualdade e a ideia de entrega ao mesmo tempo. Pode-se falar em parceria, mas é a parceria da dança. Se duas pessoas concordam em dançar juntas, concordam em dar e receber, em quem vai liderar e em quem vai seguir. É assim que a dança funciona. Quando há insistência na liderança de ambos, não há dança. É o prazer da mulher em se submeter à liderança masculina que dá liberdade ao homem. É a disposição do homem de assumir a liderança que dá liberdade à mulher. A aceitação de suas respectivas posições os libera e os enche de alegria. Se você, Valerie, puder entender sua feminilidade sob essa ótica, conhecerá a plenitude da vida. Ouça o chamado de Deus para ser mulher. Obedeça a esse chamado. Canalize suas energias para o serviço. Talvez seu serviço consista em se dedicar a um marido e servir ao mundo por meio do esposo, da família e do lar que Deus lhe dá; ou talvez você, na providência de Deus, deva permanecer sozinha para servir ao mundo sem o consolo de um marido, de um lar e de uma família; em todo caso, ao servir, você conhecerá a plenitude da vida, a plenitude da liberdade e (sei bem do que falo) e a plenitude da alegria.





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