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Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 46

46 | O SANTUÁRIO INTERIOR


Deus não limitou a dádiva da sexualidade a quem ele anteviu que se casaria. A dádiva da relação sexual, porém, ele ordenou exclusivamente aos que se casam. Isso é inequívoco nas Escrituras. Não há exceções. Intercurso sem compromisso pleno para toda a vida é algo demoníaco. Essa suprema intimidade era misteriosa até mesmo para Paulo, que escreveu: “Os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. [...] E se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Ef 5.28, 31-32). (Ninguém que “odiasse mulheres” poderia ter escrito isso.) Não se poderia encontrar linguagem mais forte para denotar a intimidade entre Cristo e sua noiva. Indubitavelmente, é por causa desses mistérios que a união física está reservada a marido e mulher, dois seres que se entregaram incondicionalmente um ao outro diante de Deus e do mundo. Eles adquirem um “conhecimento” que a ninguém mais é dado conhecer. É o santuário interno do conhecimento humano. “E Abraão conheceu sua mulher.” Não vou lhe dizer onde, como ou quando fazer. Não vou lhe dizer o que vestir. Como você sabe, inclino-me a ser técnica demais. Em uma das minhas aulas de grego na faculdade, tive um colega que resmungava sempre que discutíamos longamente sobre alguma partícula ou modo em uma passagem do Novo Testamento: “Se você for técnica demais, vai perder a bênção”. Se é assim com o grego neotestamentário, também o é com o sexo. Tenha cuidado com livros que ensinam como fazer. Há um perigo na análise. Você não pode apreender o significado de uma rosa despedaçando-a. Você não pode examinar um carvão em brasa carregando-o para longe do fogo. Ele morre no processo. Há algo mortal na implacável investigação científica sobre a mecânica da atividade sexual — as luzes, as câmeras, os órgãos e instrumentos artificiais, os observadores que tomam notas e os relatórios assustadoramente detalhados que eles publicam para o deleite do mundo — isso para não falar dos voluntários que participam dos experimentos coletivos, exibindo-se de bom grado pela causa da ciência e reduzindo essa preciosa dádiva não apenas à banalidade, mas a uma função corporal tão destituída de sentido para o ser humano quanto para o animal. Somos lembrados de que é tudo “perfeitamente natural” e, portanto, supostamente se segue o fato de que mistério, silêncio e privacidade sejam de todo descabidos. Nós já superamos tudo isso. Fomos liberados. Temo que essa liberação não seja liberdade, mas uma nova e demoníaca escravidão. Ao jogarmos fora tudo aquilo que protegia seu significado, jogamos fora também a coisa em si. O que antes era de valor inestimável tornou-se, agora, o artigo mais barato do mercado. George Steiner escreveu: As relações sexuais são, ou deveriam ser, uma das fortalezas da privacidade, o lugar noturno onde nos deve ser permitido reunir os elementos fragmentados e acossados de nosso consciente em uma espécie de ordem e repouso. Os novos pornógrafos subvertem esta última e vital privacidade; eles imaginam por nós. Retiram as palavras que eram da noite e gritam-nas por sobre os telhados, esvaziando-as. As imagens de quando fazemos amor e os balbucios de que nos servimos na intimidade já vêm embalados. [...] Nossos sonhos são postos à venda por atacado. É possível comprar livros didáticos, diagramas e fotos de técnicas sexuais em alta resolução. Espera-se que sejamos uma nação de virtuosos na cama. Ontem, Jo e eu fomos a Provincetown. Sentamo-nos a uma mesa sombreada por guarda-sóis na calçada e assistimos ao desfile de uma humanidade abatida, desgrenhada e seminua misturando-se, sacudindo-se e arrastando-se pela calçada em busca de diversão. Supõe-se que a nudez não devesse mover o ser humano. Pede-se que contemplemos sem choque, até mesmo sem surpresa, a exposição quase total de todas as formas e tamanhos físicos concebíveis. Mas eu não quero olhar para a nudez sem emoção. Quero que ela seja reservada para realçar — e não exposta para destruir — a profundeza da experiência individual. Sinto que estou sendo roubada dos incalculavelmente valiosos tesouros da delicadeza, do mistério e da sofisticação. A modéstia era um sistema de proteção. Mas os alarmes foram todos desligados. A casa está aberta aos saqueadores. A distinção entre intimidade e transparência é totalmente eliminada. A moda da “autenticidade” e do “compartilhamento” tem feito seu pernicioso trabalho. Já não há mais um senso do que é apropriado em cada ocasião. Exibe-se o que deveria ser escondido. Grita-se o que deveria ser sussurrado ou coberto pelo silêncio. Lança-se na via pública o que deveria ser guardado para a ocasião, o lugar e o indivíduo apropriados. Sexo não é a coisa mais importante para fazer um casamento dar certo. Mas é, sim, algo importante. Não tem autoridade em si mesmo. Não pode conduzir-nos à liberdade. Não deve nos dominar. Finalmente, não pode satisfazer plenamente. Até mesmo nos maiores êxtases de amor, o amante sabe que aquilo não é tudo que existe. Nem mesmo a proximidade mais próxima é próxima o bastante. A relação “eu-tu” que pensávamos ser definitiva nos leva, em última instância, àquele outro Tu. É a vontade de Deus que conduz à liberdade. É a vontade de Deus que satisfaz plenamente. “Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2.17). Porém, o sexo é parte da vontade de Deus para maridos e esposas. É uma maneira pela qual eles o glorificam (pense nisso!). Eles não devem negá-lo um ao outro. Ame seu marido, ame o corpo dele, ame estar perto dele. Leia o belo Cântico dos Cânticos, um poema de amor incluído na inspirada Palavra de Deus (poderíamos imaginar que um poema de amor devesse estar na Bíblia?), que descreve as belezas da amante aos olhos do amado e as do amado, aos olhos da amante. Eles enxergaram um ao outro. A cabeça dele, seu cabelo, seus olhos, sua face, seus lábios, seus braços, suas pernas, sua aparência, sua voz, todos são mencionados com êxtase. “O meu amado é alvo e rosado, o mais distinguido entre dez mil” (Ct 5.10). Essa mulher tinha olhos para ver, um coração para amar e a capacidade de expressar isso em palavras. Talvez todas essas três coisas precisem ser aprendidas (mais por algumas mulheres do que por outras), mas eu realmente acredito que podem ser aprendidas. A esposa precisa de olhos para ver, em todos os seus aspectos, o homem que Deus lhe deu. Ela precisa de um coração treinado na prática de amá-lo. Ela precisa ser capaz de expressar o que vê e quanto ama. Somos seres humanos, feitos de carne e sangue, bem como de cérebro e emoções. Foi preciso que o Verbo se fizesse carne para podermos verdadeiramente entender como Deus é. Um homem inicia seu pedido de casamento com uma declaração de amor: “No princípio era o Verbo”. Ele o declara de todas as maneiras que consegue imaginar — através de palavras, gestos, olhares, presentes, flores. Mas é somente quando ele se casa com a mulher que a palavra enfim se torna carne, e seu amor é expresso mais plenamente. Mas, então, a carne deve tornar-se verbo outra vez. Tanto a mulher como o homem precisam ouvir, repetidamente, que são amados. “Tu és toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito” (Ct 4.7). Verbo, depois carne, depois verbo, e assim por diante ao longo de toda a vida. Para uma mulher, a essência do prazer sexual é a entrega. Entregue a si mesma de forma completa, alegre e hilariante. (Já falamos alguma vez sobre a hilaridade do sexo? Ninguém me havia preparado para quão divertido ele pode ser às vezes!) Nem o marido nem a mulher devem privar um ao outro desse prazer, exceto por mútuo consentimento, por um período limitado. O corpo dele agora pertence a você e o seu, a ele. Cada um tem “poder” sobre o corpo do outro, cada um mantendo o outro em santidade e honra diante de Deus. Você descobrirá que é impossível traçar a fronteira entre dar prazer e receber prazer. Se você se preocupar, acima de tudo, em dar, o receber será inevitável. Em alguns momentos, você sentirá que é impossível entregar-se, e seu marido, por amor a você, não o exigirá. Em outros momentos, você sentirá um apetite voraz, e ele não desejará nada além de cair na cama e dormir imediatamente. Então, seu amor por ele desejará o que ele quer, acima do que você mesma queria. Esse é outro tipo de entrega. Você desejará trazer ao seu amado seus próprios tesouros. Eles não lhe devem ser revelados antes do tempo, nem compartilhados em retrospecto com qualquer outra pessoa. Essas são suas próprias dádivas, únicas e excepcionais, e que não devem ser reduzidas a lugares-comuns. Considere-as sagradas. Como Rabindranath Tagore escreveu: “Meus momentos marcados por Deus não precisam ser avaliados em praça pública”. As coisas nem sempre serão claras e simples. Nesse assunto, como em todos os outros em que sua vida está intimamente ligada à de seu marido, você às vezes perceberá que precisa de ajuda. Lembre-se primeiro de que o próprio amor — o “coração educado” — tem uma maneira de lhe ensinar o que fazer. A ansiedade é pior do que inútil; é destrutiva. Paulo escreveu: “Não vivam preocupados com coisa alguma; em vez disso, orem a Deus pedindo aquilo de que precisam e agradecendo-lhe por tudo que ele já fez. Então vocês experimentarão a paz de Deus, que excede todo entendimento e que guardará seu coração e sua mente em Cristo Jesus” (Fp 4.6-7, NVT). Foi Deus quem inventou o sexo. “Aquilo de que precisam” inclui as necessidades sexuais. Você pode falar com Deus sobre elas. Não é possível chocá-lo ou deixá-lo envergonhado. “Se algum de vocês precisar de sabedoria, peça a nosso Deus generoso, e receberá. Ele não os repreenderá por pedirem” (Tg 1.5, NVT).

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