Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 45
- Emperolar

- 28 de set. de 2022
- 3 min de leitura
45 | A CORAGEM DO CRIADOR
No conto “The Deluge at Norderney” [“O Dilúvio em Norderney”], de Isak Dinesen, são apresentadas quatro pessoas isoladas no sótão de um celeiro, durante uma enchente. Há um cardeal, uma senhora solteira, um rapaz e uma moça, todos desconhecidos uns dos outros. A enchente está avançando e eles sabem que aquela é sua última noite. O cardeal celebra o matrimônio do jovem casal e, então, se senta com a senhora para conversar. Consideremos a lição que esses amantes nos ensinam, acima e antes de tudo, sobre a tremenda coragem do Criador deste mundo”, diz o cardeal. “Acredito que todo ser humano, por vezes, alimenta a ideia de como seria se ele próprio criasse um mundo. O papa, de maneira lisonjeira, encorajou-me estes pensamentos quando eu era um jovem rapaz. Na época concluí que, se tivesse recebido onipotência e carta branca, eu poderia ter criado um mundo excelente. Poderia, de mim mesmo, conceber as árvores e os rios, as diferentes escalas musicais, a amizade e a inocência; mas dou-lhe minha palavra de honra que não ousaria organizar esses assuntos de amor e casamento da forma como eles são, e meu mundo teria perdido lamentavelmente com isso. Que lição impressionante para todos os artistas! Não tenha medo do absurdo; não fuja do fantástico. Dentro do dilema, escolha a solução mais inédita e perigosa. Seja valente, seja valente! Ah, madame, temos muito o que aprender. E o cardeal mergulhou em pensamentos profundos. Quem de nós, dada a oportunidade de organizar o mundo à nossa maneira, teria os poderes imaginativos do cardeal, muito menos os de Deus? Quem de nós jamais teria tido a coragem do Criador ao conceber a ideia do sexo? Não podemos supor que ele tenha negligenciado as alternativas, as armadilhas, os altos riscos que o acompanhariam. Ele viu tudo isso. E, mesmo assim, criou uma mulher idônea, adequada em todos os sentidos, para o homem. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Penso ser correto incluir a sexualidade como uma das boas dádivas que temos. É uma de nossas funções vitais, um fato básico da vida, sobre o qual não tivemos qualquer escolha e o qual não temos liberdade para alterar. Existe um princípio subjacente à sexualidade. O relacionamento entre marido e mulher, como já vimos, simboliza o relacionamento entre Cristo e a igreja. Dentro da família de Deus, contudo, alguns têm enxergado a sexualidade como uma distinção a ser cuidadosamente obliterada. A declaração de Paulo aos gálatas tem sido citada como prova de que não há diferença entre as respectivas posições de homens e mulheres. “Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.26-28). Porém, o homem que escreveu essas palavras é o mesmo que teve o cuidado de distinguir os papéis da mulher e do homem, exortando as mulheres à modéstia no vestir, ao silêncio na igreja, ao uso do véu e à submissão ao marido. Ele também foi generoso em seus elogios às mulheres que o haviam ajudado em seu ministério apostólico. Ele reconheceu que os dons espirituais haviam sido distribuídos tanto a homens como a mulheres, e estabeleceu regras para seu uso adequado. Mas ele manteve fortemente a distinção de sexos. Isso é o que importa. Além de jamais negar as diferenças sexuais, Paulo também as enfatizou. Essa passagem em Gálatas refere-se ao que acontece a um cristão por meio do batismo. Ele se torna, seja homem ou mulher, escravo ou livre, judeu ou grego, um filho. Ele desfruta os mesmos privilégios que desfrutam todos os filhos de Deus. Mas essa “ordem da redenção” não une os dois polos nem substitui a “ordem da criação”, como fica evidente na referência de Paulo a essa ordem em 1Timóteo: “A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva” (1Tm 2.11-12). É um tipo equivocado de “superespiritualidade” que tenta apagar todas as distinções entre os cristãos. É uma forma de escapismo, uma fuga da responsabilidade, uma séria distorção da verdade. Agradeça ao Doador dessa grande dádiva, Valerie! Não se junte àqueles que sentem vergonha dela ou querem fazê-la esquecer-se disso. Para começar, a ideia não foi sua — foi do seu Criador, e que Criador corajoso ele é! Sua obediência a ele ajudará outras mulheres a serem mulheres, assim como os homens a serem homens.





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