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Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 39

39 | SUBMISSÃO


“Simplesmente não suporto a ideia de ser um capacho”, disse Jo quando tentei falar com ela sobre o princípio bíblico de governo e submissão. Ela está prestes a se divorciar, pois está determinada a encontrar a liberdade, e seu casamento, diz ela, não é um negócio meio a meio, como ela acha que deveria ser. Ela foi ludibriada pela afirmação de que qualquer tipo de submissão é escravidão. Sim, muitos males têm sido cometidos na sociedade. Sim, concordo que os homens não devem oprimir uns aos outros. Sim, é verdade que alguns homens têm tratado as mulheres como capachos. Não, um marido não recebe a ordem de ser dominador, tampouco a esposa, de ser servil. Tem havido muitas formas de escravidão humana, e o cristão deve ser o primeiro a deplorá-las e corrigi-las. Jesus veio para libertar cativos. Mas submissão à autoridade dada por Deus não é cativeiro. Quisera eu ter conseguido ajudar Jo a enxergar isso! Mas, quando perguntei o que ela achava que deveria distinguir um casamento cristão de todos os demais, ela respondeu: “Igualdade”. A igualdade é, por um lado, uma impossibilidade humana no casamento. Quem está em posição de dividir todas as tarefas de acordo com preferência ou competência? “Se eu gosto, faço”, disse Jo, “e sou eu quem deveria fazê-lo. Se eu não gosto, então Bill que faça. Se ele também não gostar, então dividiremos ao meio”. Parece correto, a princípio. Certamente, é assim que muitas coisas são feitas em qualquer família, suponho, e eu não diria que é errado. Mas acaso existe uma família verdadeiramente feliz cujos membros fazem apenas o que gostam e nunca fazem com alegria algo de que não gostam? É uma visão ingênua da natureza humana presumir que dois iguais possam revezar-se entre liderar e ser liderados, e possam, por serem “maduros”, viver sem hierarquia. O bom senso tem ensinado às mulheres em todas as sociedades e em todas as eras que o cuidado do lar depende delas. Os homens têm sido os provedores. Certamente, há circunstâncias em nossa complexa sociedade moderna que exigem adaptações. Conheço muitas esposas de seminaristas que precisam trabalhar para pagar as mensalidades do marido e as compras no supermercado. Obviamente, os maridos precisam fazer parte das tarefas domésticas e do cuidado dos filhos. Esse é um expediente temporário, e a maioria deles, maridos e esposas, anseia pelo dia em que as coisas voltarão ao normal. Se nos tornamos tão maduras e de mente aberta, tão flexíveis e liberadas, a ponto de os mandamentos bíblicos dirigidos às esposas — “ajustem-se”, “submetam-se”, “sujeitem-se” — perderem seu significado; se a palavra cabeça já não carrega mais qualquer conotação de autoridade e hierarquia e passou a significar tirania; então, afogamo-nos na torrente da ideologia da liberação. Eu disse a Jo e digo a você o mesmo que Paulo disse aos cristãos romanos: “Não se deixe ser espremida para caber no molde do mundo à sua volta; em vez disso, deixe Deus remodelar sua mente de dentro para fora” (Rm 12.2, paráfrase). Deus deseja que sejamos plenas, seguras e fortes; e uma das maneiras de encontrarmos essa plenitude, essa segurança e essa força é nos submetermos às autoridades que ele colocou sobre nós. (A questão da autoridade política, à qual a Bíblia também diz que devemos nos submeter, torna-se extremamente complicada e dolorosa para alguns. Nos tempos modernos, Dietrich Bonhoeffer, Corrie ten Boom e sua família, além de Richard Wurmbrand, tiveram de se debater com isso. Não está no escopo destes escritos discutir essa questão, mas faço menção para evitar que alguém pense que eu tendo a simplificá-la demais e que eu usaria os mesmos argumentos para defender, por exemplo, a escravidão.) Submissão por causa do Senhor não equivale a subserviência. Não conduz a autodestruição ou sufocamento dos dons, da personalidade, da inteligência ou do espírito. Se a obediência em si exigisse um suicídio da personalidade (como afirma certo autor), teríamos de concluir que a obediência a Cristo exige o mesmo. Porém, as promessas que ele nos deu dificilmente apontam para a autodestruição: “Eu vos aliviarei”; “A minha paz vos dou”; “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”; “Quem crê em mim tem a vida eterna”; “Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede”; “Quem perder a vida por minha causa achá-la-á”; “Vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino”. Deus não está pedindo a ninguém para se tornar um zero à esquerda. Qual foi o desígnio do Criador em tudo que ele fez? Ele quis que tudo fosse bom, ou seja, perfeito, exatamente como ele quis dizer, livre para ser aquilo que ele pretendia que fosse. Ao ordenar a Adão que “sujeitasse” e “tivesse domínio sobre” a terra, ele não estava ordenando que destruísse seu significado ou existência. Podemos dizer que ele estava “orquestrando”, atribuindo liderança a um, subjugando a outros, a fim de produzir harmonia completa para sua glória. Para quem não foi criado em um lar disciplinado, deve ser muito difícil aprender a relação entre autoridade e amor, pois, para essas pessoas, a autoridade terá sido associada a elementos fora do lar, como a lei civil. Nós, porém, temos um Deus amoroso que organizou tudo não apenas para o nosso “melhor interesse” (nem sempre estamos desejosas de receber o que é “para o nosso próprio bem”), mas para a liberdade e para a alegria. Quando Deus criou Eva, foi porque, sem ela, o Jardim do Éden teria sido uma prisão de solidão para Adão. Não era bom que ele estivesse só, e foi para libertá-lo daquela prisão e lhe trazer liberdade e alegria que Deus lhe deu uma mulher. A liberdade e a alegria de Eva deveriam consistir em ser o complemento de Adão. Quando Paulo fala da submissão feminina, baseia seu argumento na ordem da criação. A mulher foi criada do homem e para o homem. Naturalmente, segue-se que ela teve de ser criada após o homem. A posição cronológica secundária da mulher não necessariamente prova (a despeito do que dizem Richard Hooker e outros) uma inteligência inferior. Mas quem descarta a possibilidade de haver diferença de dons intelectuais entre homem e mulher não está levando em consideração todos os dados. Há algumas estatísticas intrigantes que indicam razões biológicas para essas diferenças. Homens parecem mais bem equipados para lidar com abstrações de alto nível. Uma demonstração disso é o fato de que, embora, atualmente, haja oitenta e dois grão-mestres no xadrez, nenhum deles é mulher. Dos quinhentos maiores jogadores de xadrez da história, nenhum deles foi mulher, embora milhares de mulheres, principalmente na União Soviética, joguem xadrez. Li sobre isso em um livro chamado The Inevitability of Patriarchy, de Steven Goldberg. Goldberg faz um esforço imenso para mostrar que não está sugerindo de forma alguma que os homens sejam em tudo superiores às mulheres. Eles são diferentes, e essas diferenças são determinadas por fatores hormonais. É necessário ressaltar novamente que não há razão para crer que haja diferenças sexuais em todos os inúmeros aspectos da inteligência. Considerar a capacidade de teorizar uma demonstração de inteligência superior à percepção ou à perspicácia é algo tão trapaceiro quanto considerar a força física um indicador de boa saúde mais importante do que a longevidade. Para o cristão, as estatísticas de Goldberg são interessantes. Mais ainda para o cristão que crê em uma ordem hierárquica, pois, embora acreditemos que a ordem patriarcal tradicional não é meramente cultural e sociológica, encontrando seu fundamento, antes de tudo, na teologia, é interessante descobrir que também tem um fundamento biológico válido. Há um princípio espiritual envolvido aqui. Trata-se da vontade de Deus. De Gênesis a Apocalipse, inúmeras histórias do trato de Deus com os seres humanos nos mostram que a vontade dele é torná-los livres, dar-lhes alegria. Às vezes, o processo de libertá-los é doloroso. Significou morte para o Filho do Homem — a vida dele pela nossa. Ele não veio para condenar, nem para prender ou para escravizar. Ele veio para dar vida. E é a vontade de Deus que a mulher seja submissa ao homem no casamento. O casamento é usado no Antigo Testamento para expressar a relação entre Deus e seu povo da aliança e, no Novo Testamento, entre Cristo e a igreja. Nenhum esforço para acompanhar os tempos e para se conformar aos movimentos sociais modernos ou aos cultos da personalidade nos autoriza a inverter essa ordem. Tremendas verdades celestiais são demonstradas na sujeição da esposa ao marido, e o uso dessa metáfora na Bíblia não pode ser acidental.

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