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Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 35

35 | HERDEIROS DA GRAÇA


Há um coelho roendo folhas de trevo bem embaixo da janela junto à qual estou sentada com minha máquina de escrever. Dois homens estão em cima de uma pequena lancha que passa pelo porto e duas rolas-carpideiras permanecem lado a lado sobre o fio telefônico. Agora, as roseiras selvagens estão em plena floração, quase cobrindo a cerca do outro lado da rua. É difícil continuar na máquina de escrever em uma manhã assim. Gostaria de caminhar com você pela praia e encontrar uma reentrância em uma duna na qual pudéssemos nos sentar e conversar. Seu aerograma chegou esta manhã, escrito logo após sua chegada a Amsterdã. Você escreveu sobre pequenos chalés de sapê, cobertos por trepadeiras; sobre altas e majestosas casas de pedra, com janelas que têm leves cortinas de renda e uma abundância de plantas e flores; e sobre belas terras agrícolas com canais margeando cada lote. Você observou a ordem e a limpeza. Cape Cod tem algumas cidades encantadoras, como Chatham, que também é bela e organizada. Ontem, homens estavam cortando o mato que cresce entre as pedras do meio-fio. Os chalés de telhas rústicas têm cortinas brancas. Há muitas hortas bem cuidadas contornadas por cercas de arame para manter os coelhos a distância. (A contagem de ontem, quando fui ao correio de bicicleta, foi de quarenta e quatro.) Que alegria é essa que sentimos na ordem e no planejamento? Não é o mesmo tipo de prazer que sentimos no ritmo (que é a previsibilidade) da música, nos padrões de um tapete oriental, nos movimentos calculados de uma dança, nas formas impecáveis de qualquer verdadeira obra de arte? Nossa alegria está na própria disciplina da coisa. A disciplina não sufoca; dá força e torna a beleza possível. Por que não deveria ser assim quando consideramos também a gloriosa ordem hierárquica? Cada ser desempenha sua parte na música, no padrão e na dança, e, ao executá-la de acordo com as instruções do Criador, ele encontra sua alegria mais plena. Isso é gracioso, e não há na Bíblia expressão mais bela para descrever um casal do que a frase de Pedro: “juntamente, herdeiros da mesma graça de vida” (1Pe 3.7). O contexto é interessante. Pedro está escrevendo aos exilados sobre como devem comportar-se nos países por onde foram dispersos. A obediência deles à autoridade pode, em última instância, levar as pessoas à sua volta a glorificar a Deus. Os servos devem submeter-se aos seus senhores, sejam eles bons ou maus, pois Cristo sofreu injustamente e é seu exemplo que eles são exortados a seguir. As mulheres casadas devem ajustar-se aos maridos, seguindo o exemplo de Sara, que obedecia a Abraão. Os maridos devem “tentar compreender” (como na tradução de Phillip) suas esposas, honrando-as como seres fisicamente mais frágeis, embora “convosco igualmente herdeiras da graça de vida”. Servos e senhores, esposas e maridos têm suas graças especiais e suas instruções especiais. Tudo isso constitui o padrão — o padrão de Deus. Cada um faz parte desse padrão tanto quanto o outro, mas, quando pensamos no todo em termos de uma pintura, uma dança ou uma sinfonia, a noção de igualdade parece totalmente inapropriada. Ainda assim, marido e mulher são “igualmente herdeiros” de um modo intrincado e íntimo, e a herança conjunta deles é a graça

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