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Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 34

34 | IGUALDADE NÃO É UM IDEAL CRISTÃO


Se aceitarmos a ideia de hierarquia, precisamos saber onde estão os limites. Requereu-se ao reitor de uma pequena faculdade confessional que afrouxasse um pouco algumas regras, a fim de torná-las mais “relevantes”, mais “realistas” e mais “aceitáveis aos alunos de hoje em dia”. Aquele reitor, porém, já estava no ramo havia tempo suficiente para saber que o mesmo requerimento seria feito todos os anos. Todos os anos, o jornal estudantil publicava editoriais sobre o ponto de corte, os regulamentos dos dormitórios, o sistema de notas e a capela obrigatória. (Você já percebe que isso foi alguns anos atrás — os alunos de hoje dificilmente já ouviram falar de qualquer uma dessas coisas.) Você pode comparar as edições de 1926 e 1956, e encontrar queixas semelhantes. “Onde quer que você estabeleça limites”, disse o reitor, “é onde a batalha será travada”. Nos breves dez meses de sua vida antes da morte de seu pai, lembro-me de um único limite que ele teve de traçar para você. Ele deixou bem claro que você não devia tocar nos livros dele. Você pegou um na prateleira de baixo, rasgou uma página, levou uma palmada e, a partir de então, entendeu perfeitamente (a compreensão de um bebê geralmente está muito além da estimativa de seus pais) que não deveria chegar perto deles. Mas eu ainda consigo ver aquela sua carinha pensativa, autoconfiante, travessa e claramente desafiadora enquanto rastejava lentamente em direção à estante, olhando-nos de soslaio, testando os limites. Observávamos em silêncio, também testando. Você prosseguiu. Um dedinho se ergueu do chão e avançou em direção aos livros. “Valerie...” Pausa. O dedo parado no ar, o olhar ainda desafiador. Silêncio. Então, o dedo se moveu, muito discretamente. “Não...” O dedo parou, a expressão relaxou e mudou repentinamente para uma de intencionalidade, então você engatinhou para longe, como se tivesse assuntos urgentes a tratar em outro lugar. Os limites devem ser demarcados. O universo é regido por leis nas quais podemos confiar. Não apenas reitores de faculdade e pais traçam limites para controlar alunos e filhos. Qualquer negócio deve ser administrado por certos princípios claramente definidos. Um candidato a uma vaga de emprego recebe uma descrição do cargo e, se for escolhido para ocupá-lo e aceitá-lo, também aceita os limites que lhe são estabelecidos e as responsabilidades que o acompanham. Mas aí está a grande questão para nós, mulheres: onde foram traçados os limites? Uma mulher está obrigada a se submeter ao marido? Uma mulher pode ser ordenada ao ministério da igreja? Ela está subordinada aos homens em todas as áreas da vida? Muitas mulheres prontamente aceitam a noção de uma ordem criada, mas consideram que homens e mulheres foram criados “iguais”. A igualdade não é, de fato, um ideal cristão. Em primeiro lugar, é muito difícil entender o que as pessoas querem dizer quando falam de igualdade. Certamente, elas não querem dizer que homens e mulheres são como as duas metades de uma ampulheta ou de uma laranja. Em seu House of Intellect, Jacques Barzun diz: “Os conceitos de superior e inferior só podem ser determinados a respeito de uma qualidade única para um propósito único. [...] Os homens são incomensuráveis e devem ser considerados iguais. [...] A igualdade é apenas uma das qualidades do homem, e uma das mais dispensáveis”. Podemos dizer que homens e mulheres são iguais no quesito de haverem sido criados por Deus. Tanto o masculino como o feminino são criados à sua imagem. Ambos carregam o selo divino. Ambos são igualmente chamados à obediência e à responsabilidade, mas há diferentes responsabilidades. Porém, Adão e Eva pecaram e são igualmente culpados. Ambos, portanto, são igualmente objetos da graça de Deus. A afirmação “Todos os homens são criados iguais” é política, referindo-se a uma qualidade única para um propósito único. C. S. Lewis a descreveu como uma “ficção legal”, útil, necessária, mas nem sempre desejável. O casamento é um lugar ao qual ela não pertence de forma alguma. O casamento não é uma arena política. É uma união de dois opostos. É uma confusão utilizar expressões como “separados, mas iguais” ou “opostos, mas iguais” para se referir a essa inigualável união de duas pessoas que se tornam — porque foram criadas diferentes, para que, assim, pudessem tornar-se — uma só carne.

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