Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 32
- Emperolar

- 22 de set. de 2022
- 3 min de leitura
32 | O QUE FAZ O CASAMENTO DAR CERTO
Antes de recomendar as quatro coisas que, creio, fazem um casamento funcionar, devo reconhecer que há inúmeros casamentos aparentemente bem funcionais em que essas coisas têm pouca ou nenhuma importância. Penso em Eugenia e Guayaquil. Eugenia, uma nativa da tribo Quíchua, veio trabalhar, em sua adolescência, como nossa empregada doméstica em Shandia. Para nossa surpresa, ela trouxe um menino de cerca de onze anos a quem apresentou como seu marido. Eles se mudaram, não exatamente “de mala e cuia”, pois acho que trouxeram apenas uma “cuia” — uma rede indígena usada para transportar utensílios, para ser mais precisa. Eugenia fazia o trabalho doméstico; Guayaquil ia para a escola. Ele esperava concluir a sexta série, o mais longe que a escola da missão podia conduzir os meninos naquela época. Quando voltava da escola, fazia tudo o que Eugenia mandava: cortava lenha, acendia o fogão, carregava água e, às vezes, cortava cebolas, mexia as panelas, lavava os pratos — e esse era um arranjo muito conveniente para todos nós. Gervacio, o irmão mais velho de Eugenia, era casado com a irmã mais nova de Guayaquil, Carmela, uma doce menininha com enormes olhos escuros e um sorriso tímido. A mãe de Guayaquil e Carmela morrera quando eles eram pequenos, e o pai havia decidido que a maneira mais fácil de assegurar que eles seriam bem cuidados seria entregá-los aos respectivos cônjuges prometidos. Portanto, eles foram dados mais precocemente que de costume, mas ambos os casamentos pareciam totalmente bem-sucedidos. Perguntei a uma das nativas se aqueles casais realmente dormiam juntos. Ela deu uma gargalhada e disse (seu coloquialismo se perde muito na tradução): “Nenhuma esposa dorme mais perto do marido do que Carmela!”. Nós vimos como a poligamia funcionava bem na tribo Auca. Nossa casa era vizinha à de Dabu, que tinha três esposas. Durante o dia, nós as víamos juntas enquanto o marido caçava. A casa deles, como a nossa, não tinha muros. Nunca ouvimos uma discussão ou vimos o menor sinal de atrito entre aquelas mulheres. Dabu era fiel a elas, até onde se sabia (e todos sabiam praticamente tudo sobre todos), e muito generoso em tê-las tomado para si, pois todas eram viúvas com seus próprios filhos e não teriam ninguém para caçar para sua prole se Dabu não fosse tão generoso. Sabemos de casamentos “mistos” entre pessoas de culturas ou raças muito diferentes que pareciam funcionar bem. Richard Hooker, grande teólogo inglês, casou-se com a filha da locadora da casa na qual ele se hospedava quando pregava em Londres. Ela era, de acordo com um amigo, “uma mulher tola e desajeitada que não lhe trouxera beleza nem dote. O casamento foi uma desgraça e um erro”. Esse era o julgamento do amigo. O próprio Hooker estava satisfeito com Joan, chamando-a de sua “esposa bem-amada” e escrevendo: “Mesmo em seu primeiro estado, a mulher foi moldada pela natureza não apenas após o homem, em relação ao tempo, mas também inferior a ele, em excelência; contudo, apresentando-se aos nossos olhos em tão própria e doce proporção, é mais facilmente percebida do que definida. E aqui mesmo reside a razão para aquele tipo de amor que é a base mais perfeita para o matrimônio raramente ser capaz de fornecer de si mesmo qualquer razão”. 14 É uma declaração comovente ao vir de um homem assim. Nos próximos capítulos, discutiremos se ele tinha base bíblica para crer que a mulher é “inferior” ao homem “em excelência”, mas tal fato deve ter parecido evidente a ele e, portanto, não carecia de autoridade superior. Todavia, ele deve ter conhecido “aquele tipo de amor que é a base mais perfeita para o matrimônio”, e ninguém pode discutir com ele a esse respeito.





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