Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 31
- Emperolar

- 22 de set. de 2022
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31 | UMA VOCAÇÃO
Finalmente, e creio que o mais importante, o casamento é uma vocação. É uma tarefa para a qual você foi chamada. Se é uma tarefa, significa que você se esforça nela. Não é algo que simplesmente acontece. Você ouve o chamado, atende, aceita a tarefa, começa a desempenhá-la de boa vontade e com entusiasmo, compromete-se com a disciplina, as responsabilidades, as limitações, os privilégios e as alegrias envolvidas. Você se concentra nisso, entregando-se a esse chamado dia após dia em um “sim” para toda a vida. E, após dizer “sim” ao homem que a pediu em casamento, você prossegue dizendo “sim” ao casamento. Isso é mais fácil para a mulher, penso. Falando por experiência própria, ao se casar, até mesmo uma mulher com uma carreira considera fácil fazer do casamento sua principal tarefa e renunciar à sua ocupação “com brados de aleluia”, como disse Ruth Benedict, para que seu marido esteja em primeiro lugar. Talvez, no plano de Deus, ela não abandone de fato essa carreira. Ela deve continuar a fazer o trabalho para o qual foi chamada em primeiro lugar. Eu era uma missionária antes de seu pai me pedir em casamento e, quando me casei com ele, ainda era uma missionária, e não apenas a esposa de um missionário. Na segunda vez que me casei, havia ingressado em outra área de trabalho, como escritora, e não fui dispensada desse emprego para me tornar esposa, embora, em ambos os casos, tenha ficado claro para mim que minha vocação principal era o casamento. Se eu não estivesse disposta e desejosa de ingressar nessa vocação com suas disciplinas, responsabilidades, limitações e privilégios, então eu não deveria ter me casado. Isso me parecia óbvio. Pode haver algumas mulheres excepcionais que combinem carreira e casamento com sucesso, mas dar atenção plena a ambos ao mesmo tempo é uma impossibilidade. Se uma mulher deseja que sua carreira tenha prioridade, é melhor permanecer solteira, pela simples razão bíblica de que ela foi feita para se adaptar a um homem (foi feita “para ele”), se tiver um homem. Talvez eu esteja fazendo isso soar fácil demais. Antes de me casar pela primeira vez, passei por um longo período de reflexão e oração para saber se, de fato, o chamado missionário não excluía a possibilidade de casamento, no meu caso. Isso certamente era verdade para alguns. Aparentemente, foi o caso de Amy Carmichael. Ela sabia que o chamado divino para o trabalho missionário entrava em conflito com seus próprios desejos de se casar e escolheu não o seu caminho, mas o de Deus. Eu me perguntei se estava sendo chamada a fazer o mesmo tipo de escolha. Você conhece meu temperamento, como sou tão facilmente convencida de que a vontade de Deus é qualquer coisa que eu não queira fazer. Mas enfim, de formas imprevisíveis, mas inconfundíveis para nós (algumas das quais já lhe contei em outro lugar), concluímos que o casamento era nossa vocação e, como tal, exigia (que exigência agradável!) nosso comprometimento. Mais tarde, porém, quando as exigências de ser uma missionária ou escritora, ocasionalmente, atrapalhavam o ser uma boa esposa, tive de lutar com a falaciosa suposição de que a tarefa mais fácil ou mais agradável, a de esposa, nada mais era do que uma fuga da responsabilidade. “Mas também é minha responsabilidade ser esposa”, dizia a mim mesma e, imediatamente, retrucava: “Mas você tem de ir lá e ensinar aquelas nativas a ler”; ou: “Quando você vai conferir aquela tradução de Lucas?”. Quando era tanto escritora como esposa, sentia-me extremamente tentada a não fazer nada além do trabalho doméstico, porque amo o trabalho doméstico e, sobretudo, porque amo realizá-lo para criar um lar para o marido. Porém, houve momentos em que tive de me afastar da cozinha e descer para o escritório para fazer primeiro o trabalho mais difícil e “comer meu espinafre antes de poder ter a sobremesa”. Esse é um conflito que todo homem casado que leva a sério tanto seu casamento como seu trabalho enfrentará. Eu disse que acho mais fácil uma mulher aceitar seu casamento como vocação porque o fardo da responsabilidade financeira recai sobre seu marido. Mesmo nos casos em que a renda da esposa é necessária, o que não era meu caso, o marido é o provedor. Segundo as Escrituras, ele é responsável por sua família. Conheço uma mulher que diz ao marido: “Eu sou sua mulher, mas você é meu viver”. Uma mulher nunca é a vida de um homem no mesmo sentido que um homem é a vida de uma mulher, e é assim que deve ser — “O homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem”. Mas é por isso que não é fácil para o homem ver o casamento como uma vocação. E, se ele não o vê como tal, não levará a sério suas implicações. Você gostaria de uma fórmula simples para organizar as prioridades, não é? Todas nós gostaríamos, e ninguém nos vai dar. Somente Deus, que a chama para sua tarefa, a ajudará a saber onde reside o equilíbrio, quando você pesa suas responsabilidades diante dele, com oração e confiança. “O justo viverá pela fé” é a norma do casamento, assim como de todas as outras esferas da vida, e não há outra norma que cubra todas as vicissitudes. O casamento não é a única tarefa para a qual qualquer uma de nós é chamada. As mulheres que não têm uma carreira certamente são chamadas para uma variedade de tarefas além do casamento. A maternidade é uma tarefa que, assim como uma carreira, muitas vezes ofusca a vocação matrimonial, de modo que o casal se esquece de que foi chamado um para o outro e só pensa na família. Como esposa de um ministro, você terá tarefas na igreja que demandam tempo e atenção. Cada tarefa requer fé. Cada uma deve ser reconhecida e aceita ou rejeitada pela fé, crendo que o Deus que ordena todas as coisas pode ordenar e dirigir sua vida para que ela não seja vivida de forma egoísta, “em floridos canteiros de comodidade”, nem seja tão confusa ou agitada que a paz de Deus não possa governar. E a palavra egoísta nos leva ao princípio do sacrifício. Vamos assentar isso de uma vez por todas: se uma vida cristã exige sacrifício, um casamento cristão também exige sacrifício, com a entrega de sua vida pelo outro, que é o princípio central do cristianismo. Mas dar sua vida por seu marido, todos os dias, não é, para mim, o tipo de sacrifício mais difícil. Normalmente não se parece nem um pouco com um sacrifício. Muitas vezes, não dói. Mas, quando vocês dois tiverem de se sacrificar juntos por outras pessoas, talvez se pareçam mais com um. Depois de tudo o que eu disse sobre a responsabilidade de um para com o outro, sobre a seriedade dessa vocação do casamento, sobre a necessidade de desempenhar sua tarefa, ainda devo lembrá-la de que o princípio da cruz está no cerne do casamento. Paulo escreveu aos coríntios que, porque “o tempo se abrevia”, aqueles que tinham esposas deveriam viver como se não tivessem. Muitos homens casados conseguem viver assim — com um jovial e impensado desprezo por suas esposas e famílias. Não era isso que Paulo tinha em mente. Ele estava escrevendo sobre a necessidade de viver a vida segundo Deus. Ele fala das tensões inevitáveis — “a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, para ser santa, assim no corpo como no espírito; a que se casou, porém, se preocupa com as coisas do mundo, de como agradar ao marido” (1Co 7.34). Paulo não apoia a ansiedade — “Não andeis ansiosos de coisa alguma”, disse ele aos filipenses. Antes, seu motivo ao mencionar essas coisas é “somente para o que é decoroso e vos facilite o consagrar-vos, desimpedidamente, ao Senhor”. Algumas vezes, essa consagração pode exigir que vocês sacrifiquem suas vidas juntos pelo bem de outras pessoas. Em outras ocasiões, sua consagração a seu marido será aceita como consagração ao Senhor. “Sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40) — as palavras de Jesus são a prova de que a maneira como tratamos outras pessoas (incluindo, nunca se esqueça, seu marido) é a maneira como o tratamos e ele a aceita como tal. Portanto, o casamento é uma vocação. Você é chamada para ele. Aceite o casamento, então, como uma tarefa dada por Deus. Mergulhe nele com alegria. Faça-o de coração, com fé, oração e ação de graças





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