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Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 28

28 | DINÂMICO, NÃO ESTÁTICO


Já conversamos sobre com quem você vai se casar. Agora, o que é o casamento? Você já leu a definição de Barth. Não posso melhorá-la, mas há quatro coisas que o casamento vem a ser à medida que você for convivendo por dias, semanas e anos com seu marido. É um relacionamento dinâmico, não estático. Ou melhora ou piora. À medida que as pessoas vão crescendo ou se deteriorando, os relacionamentos entre elas hão de crescer ou se deteriorar. Uma explicação comum oferecida para a incompatibilidade conjugal é: “Nós superamos um ao outro”. Um casal se conhece no colégio ou na faculdade, compartilha os interesses da juventude, casa, começa a descobrir que “fazer sucesso” no mundo pode não ser tão divertido quanto fazer amigos, tirar boas notas ou fazer gols lá no campus. A responsabilidade começa a se aproximar, contas têm de ser pagas, decisões têm de ser tomadas, é preciso trabalhar duro sem que haja recompensa pública (tampouco privadas, muitas vezes). Já se disse que, se um casal não cresce junto, aumenta a distância entre os dois. Porém, para os casais que fizeram os votos com seriedade diante de Deus e na presença de testemunhas, a possibilidade dessa distância crescente não deve ser permitida. Não é algo que precise “acontecer” com eles, como se fossem espectadores atingidos por alguma força da qual são incapazes de se proteger. Eles decidiram amar e viver juntos. Eles permanecem — não desamparados, mas em relação a Deus — cada um responsável por cumprir seus votos perante o outro. Cada um decide fazer a vontade de Deus para que, juntos, se movam em direção à “medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). E, se Deus é visto como o ápice de um triângulo no qual eles dois são os vértices básicos, o movimento em direção a Deus, necessariamente, diminui a distância entre eles. Aproximar-se de Deus significa aproximar-se um do outro, e isso implica crescimento e mudança. Eles estão sendo transformados, de glória em glória, na mesma imagem. Não existe tal coisa como estagnação nem aquela aparentemente inocente palavra “incompatibilidade”. Existem tensões. A robustez de uma grande catedral está no impulso e no contraimpulso de seus contrafortes e arcos. Cada um tem sua própria função e cada um, sua força peculiar. É assim que eu vejo a dinâmica de um bom casamento. Não é força em contraste com fraqueza. São dois tipos de força, cada um destinado a fortalecer o outro de maneira especial. Já falamos sobre a analogia do veleiro com referência ao significado da disciplina. Não é fraqueza o barco submeter-se às leis de navegação. Essa submissão é a sua força. São as leis que permitem ao barco utilizar toda a sua força, a fim de subordinar a força do vento e, assim, aproveitá-la a seu favor. Não foi alguma fraqueza no Filho de Deus que o fez obedecer à vontade do Pai. Foi poder — o poder de sua própria vontade em querer a vontade do Pai. Em um bom casamento, há dependência e independência de ambos os lados. Seu marido precisa que você seja diferente dele; que você seja o que somente você é, o que ele nunca poderá ser e o que ele precisa e deseja ser. Só assim você pode ser o que é em relação a ele. Só assim você pode complementá-lo. Ele depende de você para ser seu complemento; você depende dele para ser o seu. Ele é independente de você em suas diferenças — você é mulher, distinta, totalmente diferente, oposta. “No Senhor, todavia”, disse o apóstolo Paulo, “nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da mulher; e tudo vem de Deus” (1Co 11.11-12). Homens e mulheres não podem e não devem tentar viver a vida sem referência ao sexo oposto. Eles são interdependentes e foram designados para reconhecer e confrontar um ao outro. E é essa confrontação — mais claramente realizada no casamento — que torna de enorme importância que os sexos não sejam confundidos, ignorados, minimizados ou jogados um contra o outro. Nós precisamos um do outro. Marido e mulher precisam ser marido e mulher, não camaradas. A dinâmica deve ser mantida conforme pretendida pelo Arquiteto. Você já teve alguma experiência desse processo de mudança. Você conheceu Walt pela primeira vez por ele ser amigo de Ed. Quando o viu na vez seguinte, ao voltar da faculdade para as festas de fim de ano, ele despertou seu interesse e você começou a pensar nele não mais como o amigo de um amigo, mas como seu amigo. Lembra-se da noite em que você estava casualmente cuidando de seus afazeres, limpando a cozinha, passando roupa, e ele não ia embora? Você viu que ele estava dando desculpas para ficar, e a percepção de que ele estava interessado em você causou outra mudança. Ele não era mais apenas um amigo. Dois meses depois, você recebeu um cartão no Dia dos Namorados e, logo em seguida, um cartão de aniversário. Na Páscoa, você o viu novamente e começou a se perguntar se o amava. Você recebeu uma ou duas cartas durante o verão e, no outono, você já sabia, sem sombra de dúvida, que ele a amava. Então, no último Natal, ele já era seu noivo e, em breve, será seu marido. Amigo, amado, marido. Em sua vida juntos, ele será muitas coisas para você. Confidente, companheiro, provedor, força, parceiro nas diversões, ouvinte, mestre, aluno, líder, consolador e, como Sara enxergava Abraão, “senhor”. Cada papel tem suas glórias e suas limitações, e cada um requer um tipo diferente de resposta da sua parte — e isso requer resiliência, adaptabilidade, maturidade. A vida torna-se empolgante, e o interesse é mantido por meio dessa dinâmica, desde que tudo seja sustentado pelo amor. Seu provedor pode, em algum momento, perder o emprego. Sua força pode mostrar inesperada fraqueza. Seu cavaleiro de armadura pode sofrer uma derrota em público. Seu mestre pode cometer um erro grave sobre o qual você já havia tentado alertá-lo. Seu amante pode tornar-se um paciente indefeso, doente, dolorido e triste, necessitando de sua presença e cuidados a cada minuto do dia e da noite. “Este não é o homem com quem me casei”, você dirá, e isso será verdade. Mas você se casou com ele para o bem e para o mal, na saúde e na doença, e aquelas tremendas promessas levaram em conta a possibilidade de uma mudança radical. Foi por isso que as promessas se fizeram necessárias. Algumas coisas na vida podem trazer o que parece ser uma zombaria das promessas solenes. “Amar, honrar e obedecer” a seu marido pode parecer a derradeira ironia diante das indizíveis humilhações e indignidades de uma doença. Amar, honrar e obedecer a esse homem exausto, angustiado e zangado que se recusa a tomar seu remédio? Os votos são sérios. Espantosamente sérios. Mas você não os assume confiando em sua própria força para cumpri-los. A graça que lhe permitiu fazer esses votos estará à sua disposição quando esse cumprimento parecer impossível

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