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Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 21

21 | UMA ESCOLHA É UMA LIMITAÇÃO


Em sua carta mais recente para mim, escrita logo depois de se despedir de Walt, você disse: “Ah, mamãe, está ficando cada vez melhor!”. Falou da paz e do contentamento absolutos que experimenta quando está com ele. Podemos crer que Deus respondeu às nossas orações — por anos a fio, a minha foi: “Guarda-a do homem e para o homem com quem ela há de se casar” (“do homem” significava: até o tempo designado por Deus, para que você não tomasse a frente da vontade divina); e a sua, para ser guiada ao homem designado por Deus. E, assim, você usa a aliança que ele deu. Tertuliano menciona o antigo costume de usar uma aliança de ouro no quarto dedo porque se acreditava que uma veia corria desse dedo diretamente para o coração. Permitia-se que uma mulher usasse ouro apenas ali, na promessa de casamento. Na liturgia medieval, a aliança era colocada primeiro no polegar, “em nome do Pai”, depois no dedo indicador, “em nome do Filho”, no dedo médio, “em nome do Espírito Santo”, e no dedo anelar com o “amém”. Quando a aliança de casamento for colocada em seu dedo, você terá finalmente selado sua escolha. É esse homem, e somente esse, a quem você escolheu “enquanto ambos viverem”. Muitas revisões e improvisações têm sido feitas nos casamentos modernos, algumas na crença de que palavras escritas pelos próprios noivos devem ser sempre preferidas às velhas palavras, escritas por alguém que sabia escrever, por serem mais “sinceras”, “significativas” ou “honestas” — como se a repetição de palavras de outrem, palavras provavelmente mais claras e belas do que a maioria de nós jamais poderia ter escrito, não pudesse ser sincera. Em uma dessas improvisações, a frase “enquanto ambos viverem” foi mudada para “enquanto ambos se amarem”. Isso retira o cerne do significado mais profundo do casamento. É um voto que você está fazendo diante de Deus e das testemunhas, um voto que você manterá pela graça de Deus, que não depende de seu humor, de seu sentimento ou de “como as coisas vão se sair”. Como outros já disseram, não é o amor que preserva o casamento; é o casamento que preserva o amor. Quando você faz uma escolha, aceita as limitações dessa escolha. Aceitar a limitação requer maturidade. Uma criança ainda não aprendeu que não pode ter tudo. Ela quer tudo que vê. Quando não consegue, grita. Ela precisa crescer para perceber que dizer “sim” à felicidade geralmente significa dizer “não” a si mesma. Lembre-se do homem orgulhoso de Dinesen: “Ele não se esforça para obter uma felicidade ou um conforto que possam ser irrelevantes para a ideia que Deus tem a seu respeito”. Escolher fazer isso é escolher deixar de fazer outras mil coisas. Aqueles que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino de Deus, de quem Jesus fala em Mateus 19.12, tiveram de aceitar as limitações radicais impostas pelo fato de serem eunucos. Aqueles que se casam, disse Paulo, sofrerão angústia na carne. Talvez ele sentisse que essa afirmação era indiscutível, que tais angústias eram óbvias a qualquer um, mas não mencionou as angústias da carne eventualmente enfrentadas por quem não se casa. Talvez Paulo as sentisse na própria pele e, por isso, não desejasse falar a esse respeito. No ano passado, houve um simpósio de alunas do seminário. Nele, uma mulher reclamou que todo o currículo do seminário se baseava na presunção de que os alunos eram homens. A alegação não era precisa, mas, mesmo que fosse, uma mulher que escolhe entrar no seminário deveria saber de antemão que os alunos seriam majoritariamente homens e que o currículo naturalmente enfatizaria isso. Ela deveria preparar-se para estar em minoria e aceitar as limitações impostas por isso. O bom senso lhe diria isso. Pensei em John Sanders, um ex-aluno do seminário que era cego. Jamais ouvi John reclamar porque o mundo inteiro funciona como se todos pudessem ver. É claro que o mundo funciona dessa forma. A maioria das pessoas enxerga. John aceita isso como algo natural, nunca reclama nem menciona sua cegueira, e constrói seu próprio caminho apesar das impossíveis limitações (para nós) de sua vida. Você deve lembrar-se de Betty Greene, uma das fundadoras da Missionary Aviation Fellowship [Fraternidade de Aviação Missionária], uma mulher que já pilotou todo tipo de avião, exceto um jato. Ela até mesmo transportou bombardeiros durante a Segunda Guerra Mundial, mas você ficou surpresa por ela não “parecer piloto”. Ninguém mais achava que ela parecesse e, muitas vezes, quando ela pousava em alguma base aérea estrangeira, as autoridades ficavam perplexas ao ver uma mulher saindo do avião. “Você voa nesses aviões sozinha?”, perguntavam-lhe com frequência. Porém, muito tempo antes, Betty havia decidido que, se ela queria fazer seu caminho no mundo dos homens, precisava ser uma dama. Ela teria de competir com homens para ser piloto, mas não competiria com os homens para ser homem. Ela se recusou, de todas as maneiras, a tentar agir como um homem. É um tipo ingênuo de feminismo aquele que insiste no fato de que as mulheres devem provar sua capacidade de fazer tudo aquilo que os homens fazem. Tratase de uma distorção e de uma farsa. Os homens nunca tentaram provar que podem fazer tudo que as mulheres fazem. Por que sujeitar as mulheres a critérios puramente masculinos? A mulher pode e deve ser julgada pelos critérios de feminilidade, pois é em sua feminilidade que ela participa da raça humana. E a feminilidade tem suas limitações, assim como a masculinidade. É disso que estamos falando. Fazer isso é não fazer aquilo. Ser isso é não ser aquilo. Ser mulher é não ser homem. Estar casada é não estar solteira — o que pode significar não seguir uma carreira. Casar-se com esse homem é não se casar com todos os outros. Uma escolha é uma limitação.

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