Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 14
- Emperolar

- 22 de set. de 2022
- 2 min de leitura
14 | LIBERDADE ATRAVÉS DA DISCIPLINA
Sentada aqui na janela deste chalé, posso avistar um veleiro deslizando silenciosamente no horizonte. É um belo retrato da liberdade. Mas a liberdade que o veleiro tem de se mover com tamanhas rapidez e beleza é o resultado da obediência a leis. O construtor do barco precisava saber a proporção adequada entre a largura do casco e o tamanho da quilha e do mastro. Quem conduz o barco obedece às regras de navegação. Um navio rumando contra o vento se move tortuosamente, mas, ao seguir na direção da correnteza ou de um vento favorável, ele toma para si a força da maré e do vento, e eles se tornam seus. Ele está fazendo aquilo para o que foi criado. Ele não é livre quando desobedece às regras, mas ao obedecer a elas. As rodovias modernas costumam ser chamadas de vias expressas [freeways no original, que quer dizer caminhos livres em português], mas quanta liberdade de movimento haveria se cada motorista fosse encorajado a escolher qualquer velocidade, qualquer pista e qualquer direção que porventura atraísse sua imaginação no momento? Observei, no parque Boston Common, uma placa dizendo “Favor”, que o público deveria entender como uma abreviação de “Favor não pisar na grama”. Quase todo mundo obedecia àquele sinal e, por isso, ainda havia alguma grama. Mas algumas pessoas estavam sentadas na grama, desafiando o sinal. A liberdade delas de se sentar na grama, e não na terra nua, dependia do fato de a maioria se haver privado desse privilégio. A maioria havia escolhido permitir o crescimento da grama. Essa escolha implicava restrição, a disposição de caminhar apenas pelas calçadas. Implicava não fazer o que se queria com vistas a ter algo que se queria ainda mais. A liberdade de poucos fora comprada com o sacrifício de muitos. Você e eu conversamos sobre como estudantes universitários concebem a ideia de liberdade em seus dormitórios. Eles não querem regras sobre luzes apagadas, horários de entrada e saída ou volume de som. Consequentemente, essa liberdade de manter as luzes acesas até altas horas, de ficar fora a maior parte da noite e de ouvir música durante a madrugada significa que não há liberdade para dormir, tampouco para estudar, o que significa que os estudantes não são mais livres para ser estudantes — exatamente aquilo que eles vieram fazer na faculdade e pelo que pagaram quinze mil dólares. Esse é o cerne da questão da liberdade, da liberação. Significa abandonar todas as restrições? (Acaso um navio poderia navegar sem as restrições?) Significa fazer o que temos vontade de fazer e não fazer o que não queremos fazer? Significa disciplina. Significa fazer o que fomos criadas para fazer. Para o que somos chamadas, nós, mulheres de Deus?





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