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Deixe-me ser mulher: Lições à minha filha sobre o significado de feminilidade 13

13 | BATALHA DE QUEM?


Ontem à noite, antes de ir para a cama, olhei para o porto e vi que um dos barcos estava aceso. Deveriam estar fazendo algum conserto, pois, hoje pela manhã, o barco se encontra empilhado de armadilhas de lagostas no convés e, embora seja quase meio-dia, permanece ancorado, balançando suavemente ao vento. Pergunto-me quando o pescador sairá ao mar para colocar suas armadilhas. Talvez o vento esteja muito forte. Três tentilhões roxos, um pardal e um pintarroxo estão ocupados no gramado da frente. Os tentilhões procuram a poça na qual se banham regularmente. Ela secou ao sol. O pardal encontra sementes na grama. O pintarroxo, um macho elegante e bonito, inclina-se para ouvir (é verdade que eles podem realmente ouvir minhocas rastejando?) e, então, mergulha de cabeça no chão, emergindo com uma minhoca que ele puxa, repuxa e, enfim, bica e engole. Uma codorniz-da-virgínia repete incessantemente seu nome no matagal atrás da casa. Há mais rosas silvestres florescendo esta manhã na cerca do outro lado da estrada, tingindo-a de branco e cor-de-rosa vívido. Você amaria este lugar, eu sei, pois sempre amou sol e ar livre. Mas tenho certeza de que também amará Londres. Só estive lá uma vez, mas me senti cativada e dominada pela solidez do lugar e pelo que só posso chamar de uma grandiosa e nobre elegância. Lá, ela permanece, a mesma Londres após tantos séculos, após o inimaginável bombardeio da Segunda Guerra Mundial, ainda uma cidade forte e orgulhosa. Eu me senti como se a conhecesse havia séculos e estava feliz por voltar a encontrá-la. Talvez hoje esteja frio e chuvoso lá, enquanto o sol brilha intensamente aqui. Acabo de receber pelos Correios uma revista contendo vários artigos sobre ordenação de mulheres. Os autores têm uma visão menos séria do que a minha quanto ao relato da criação e baseiam a maior parte de seus argumentos na competência das mulheres para fazer o trabalho de um sacerdote ou de um ministro. Esse é um argumento bastante convincente à primeira vista. A igreja precisa de ministros, e as mulheres são boas nisso, então por que não permitir que sejam ordenadas? Os peixes nadam, os pássaros voam, os homens pescam lagostas, os pintarroxos arrancam minhocas de seus seguros túneis subterrâneos, as cidades são erguidas e a civilização avança — tudo isso não faz parte do grande ritmo e da grande harmonia das coisas? Eu creio que o Senhor está no controle. Tenho de crer nisso, mesmo quando penso no que as armadilhas significam para as próprias lagostas, no que o bico mortal do pintarroxo significa para a esforçada minhoca, nos incalculáveis pecados e dores de Londres ou das muitas áreas daquela cidade que não são nada nobres ou elegantes. O universo se move ao comando de Deus, e os homens e as mulheres estão continuamente sob esse comando; porém, diferentemente dos pintarroxos e das lagostas, foi-lhes dado o poder de desobedecer. Eles são capazes de fazer muitas coisas que não deveriam fazer. A capacidade de fazer algo não é um comando para que isso seja feito. Não é nem mesmo uma permissão. Esse fato simples e tão óbvio no reino físico (sabemos perfeitamente bem que não devemos esmurrar o rosto de alguém, embora, algumas vezes, tenhamos a capacidade e o desejo de fazer isso) é facilmente obscurecido nos reinos intelectual e espiritual. Discernimos em nós mesmos certas propensões ou até mesmo dons e, sem pensar nas possíveis restrições que possam ter sido impostas ao seu uso, começamos a exercê-los. Os resultados podem ser muito mais destrutivos do que esmurrar alguém no rosto. Aqueles homens e mulheres que usaram sua mente, seus talentos e seu gênio para conduzir multidões para o mal fizeram isso usando mentes, talentos e gênios que lhes foram dados por seu Criador. Mas eles não perguntaram o que Deus havia ordenado. Eles não se ofereceram em primeiro lugar a Deus, confiando que ele os direcionaria em relação à esfera apropriada ao exercício desses dons. Assim, a questão da ordenação envolve muito mais do que competência. Ela não pode ser decidida com base na necessidade da igreja, nos impulsos de um indivíduo ou em qualquer dos argumentos sociológicos ou humanísticos apresentados por aqueles que buscam liberação. Ela envolve coisas muito mais fundamentais e permanentes, e uma delas é o significado da feminilidade. Temos algo a que reagir, algo que nos dirige, que nos chama e nos mantém; e é em obediência a esse comando que encontraremos nossa liberdade plena

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